Para muitos fotógrafos ainda não é clara a diferença entre Fotografia Publicitária e Fotografia Editorial. Por isso, antes de começar o post, é importante explicar o que são elas.

Editorial é a divisão, ou seção que um jornal, site ou revista pode apresentar. Por exemplo: moda, economia, esporte, notícias, política, cultura, etc, sendo cada uma delas é comandada por um editor. Ou seja, a Fotografia Editorial é justamente aquela que está presente na matéria/texto para representar um assunto e não está ligada à venda de um produto ou serviço. Outras característica que vemos nesse tipo de fotografia é a presença do nome do autor da foto.

Entretanto, a confusão com a Fotografia Publicitária se dá, pois hoje em dia muitas campanhas estão usando a “natureza despojada” da Fotografia Editorial para atingir um outro perfil de público. Na fotografia publicitária nunca vemos o nome do fotógrafo, pois ela é fruto do trabalho de diversos profissionais e até mais do dois fotógrafos podem ter participação na mesma composição da imagem.

Mais do que classificação de áreas de atuação, meu intuito nesse texto é compartilhar as experiências que tive na hora de realizar esse tipo de job.

Diferente da Fotografia de Moda, é na fotografia de Publicidade que estão os grandes orçamentos(não tão grandes quando se é um fotógrafo iniciante). De qualquer forma, é na publicidade que você encontra maiores subsídios para alugar estúdio, equipamentos, pós produção, maquiadores, cabelereiros, modelos, produção de cena, making of , entre outras coisas. Sem contar que o cachê do fotógrafo é muito maior do que quando fotografamos moda. Por questões comerciais, a criação é um pouco mais engessada do que na fotografia de moda e o fotógrafo também não tem tanta autonomia.

O ciclo é mais ou menos o seguinte:

1- Contato com a agência 

Quem planeja a foto é a agência de publicidade e de todos os projetos que estive envolvido, ou fui indicado ou fui achado na internet pela agência. Há outras maneiras de iniciar um contato com a agência e um exemplo é a velha, mas ainda em uso,bater porta”.  Não vou entrar nos méritos de aproximação, mas a pessoa que você deverá procurar na agência é o Art Buyer. É ela quem contrata os profissionais que vão produzir uma imagem. No casos de agências menores, quem faz esse papel é o atendimento ou mesmo o dono da agência.

Se você não é do tipo que fica esperando o job cair do céu, aqui tem uma lista com as principais agências de publicidade do Brasil.

2 – Briefing do job

Briefing é o escopo ou desenho de como a foto vai ser. O seu cliente é a agência e ela já decidiu com o cliente dela(a empresa) como será a foto. Você não tem tanta liberdade de criação, mas por outro lado acaba sendo um trabalho muito bem organizado e produtivo.

Ano passado eu fiz um trabalho para a COMGAS(Companhia de Gás de SP) para conscientizar os trabalhadores a usarem corretamente seus equipamentos de proteção individual e fazer também uma ligação com a a família deles. No total eram 30 fotos e um dos briefings de foto que recebi da agência foi o seguinte.

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Briefing: Filho abraçando o pai que está usando EPI

Foto que fizemos:

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Foto pronta com base no briefing

3 – Negociação do valor do job

Em mercados mais antigos como o Americano e Europeu é mais fácil formar preços, inclusive com softwares que fazem isso para você como, por exemplo, o fotoQuote Pro.

Até temos algumas tentativas de algo parecido, mas no mercado como o brasileiro isso ainda não é uma realidade.  Para formar preço no mercado publicitário deve levar-se em consideração inúmeros fatores como:

  • Se a campanha vai ser impressa ou não.
  • Media placement qual é o meio de veinculação dessas imagens: revistas, outdoors, blogs, brochuras, etc.
  • Se a campanha será internacional, nacional ou regional
  • Quanto tempo a peça vai ficar no ar.
  • Exclusividade. Se você pode, ou não, utilizar aquelas imagens para outros fins.
  • Quem fará o casting dos modelos.
  • Quem aluga o estúdio ou faz o scout da locação
  • Quem irá fazer o tratamento das imagens.
  • A produção de cena fica por conta de quem.
  • Quem cuidará da alimentação da equipe.
  • Quem fica responsável pelo transporte.

Com essas informações iniciais já dá para começar a formar o preço da sua foto. Se você está achando tudo muito complicado, parabéns! Você está aprendendo que ser um fotógrafo não é brincadeira e que nada vem de “mão beijada”.

Algo muito importante que o fotógrafo não pode esquecer: se ele tem de fazer casting, produzir, e ficar responsável por outras coisas ele já não é mais só fotógrafo, é gerente de projetos e deve cobrar por isso também.

O que eu costumo fazer: sempre pergunto para o meu cliente quanto ele tem de budget. Ou seja, quanto de dinheiro ele tem para investir. Se ele tem R$500,00, R$5.000,00 ou R$50.000,00 “não importa”, é possível trabalhar dentro de diversos valores. A questão é que uma foto e o trabalho investido de R$500,00 nunca será igual a um trabalho de R$5.000 ou de R$50.000,00.

Só para dar um norte, hoje(primeiro semestre de 2012) um fotógrafo de porte médio tem cobrado de R$2.000 a R$3.000 uma diária de foto publicitária. Quando falo diária, estou me referindo também ao tratamento e outros tipos de serviço.

Normalmente, recebe-se 50% antes e 50% na entrega das fotos.

4 – Pagamento da equipe

Negócio fechado chegou a hora de reunir a equipe, se é você quem vai contratar os modelos e/ou figurantes tenha em mente que terá que investir, pelo menos, R$1.500,00 para o cachê de um ator ou modelo em início de carreira. Se precisar de nota fiscal esse valor subirá para R$1.800,00.

Abaixo, mais alguns valores de diária praticados em SP para uma foto de “médio porte”:

  • Maquiador: R$300,00 a R$900,00
  • Cabelereiro: R$300,00 a R$900,00
  • Assistente: R$100,00 a R$300,00
  • Camareira: R$100,00 a R$200,00
  • Produtor de moda: R$600,00 a R$2.000,00
  • Ator infantil: R$300,00 a R$1.000,00
  • Catering(alimentação): R$30,00 a 60,00 por pessoa.
  • Estúdio em SP: R$600,00 a R$1.500,00 a diária

Para saber mais sobre estúdios, leia o post: Como alugar um estúdio fotográfico.

5- Execução do job

Uma foto publictária muitas vezes é formada por diversas imagens. Seja por fotos diferentes ou por Computer-Generated Imagery (CGI).

Campanha da NET que fiz junto com Edu Euka, Flaviz Guerra e Junião para a agência LOV.

Tenha em mente que sua foto será inserida em outra foto ou que partes das fotos que você fez serão juntadas. Exemplo: o cabelo da modelo ficou melhor na foto B, mas o cliente gostou do rosto dela na foto C e o vestido está melhor iluminado na foto A. Se prepare, pois essa foto se chamará ABC no final. Portanto quando fotografar publicidade, procure usar um tripé e a mesma distância focal, pois se precisar juntar fotos você não terá problemas com distorções e proporções que não se encaixam.

Não se preocupe se você possui uma “câmera simples”, muitas fotos que fiz foram com uma Canon 50D + 28-135mm antes de migrar para 5D Mark II e lentes primes. Se você não possui esse equipamento e o orçamento lhe permite, alugue tudo o que você precisar. Até porque não adianta receber uma grana sua boa do seu cliente e aparecer na locação com uma XTi. Marketing pessoal sempre conta! Se precisar alugar algo a Raineri Equipamentos tem praticamente tudo para locação.

Eu ainda não precisei alugar, pois todos os meus equipamentos eram mais do que suficientes. Para uma foto desse porte eu costumo levar:

  • 5D Mark II + câmera de backup
  • Canon 17-40mm F4 + 85mm 1.8
  • 2 Speedlights da Canon
  • PocketWizard
  • Umbrella Softlighter da Photek
  • Rebatedor
  • ColorChecker.
  • MacBook Pro e Ipad para tethered capture
  • Manfrotto 055XPROB
  • Manfrotto 680B

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Photek Umbrella Softlighter II + Canon 430EX II

Antes de começar a fotografar eu separo um dia que chamo de prelighting. Nesse dia, munido do briefing, vou com minha assistente no local da fotos e ilumino ela, analiso os ângulos e perspectivas das fotos que irei fazer. Ou seja, eu faço um rascunho de tudo o que será fotografado e assim o dia da foto renderá muito mais.

Além do rascunho, outra solução que otimiza meu dia é fotografar conectado no computador, também conhecido como tethered capture. Quando trabalho assim, meu cliente já vê a foto e me diz se está dentro do que ele espera o que elimina erros e me permitir avançar para a próxima foto. Também consigo ver se uma foto está fora de foco, se a roupa está amassada, se tem uma etiqueta para fora da roupa. Quase sempre é mais fácil consertar a foto na hora que que arrumar depois no Photoshop.

Hoje eu utilizo o Capture One Pro e o aplicativo Capture One Pilot.

Camera control | Capture Pilot photography app

6- Tratamento das foto e entrega dos arquivos

Algumas campanhas que fotografei, como essa da COMGAS, não tiveram tratamento de  imagem, pois a agência queria fotos que dialogassem melhor com o perfil do público que ela estava tentando atingir. Por isso é tão importante a iluminação e a maquiagem.

De qualquer forma, você pode fazer o tratamento das suas imagens e caso todo o tratamento fique por sua conta é necessário cobrar por isso também. Nos EUA e Europa há uma distinção bem clara entre o fotógrafo e o retoucher. São duas profissiões distintas e com pagamentos idem.

Na dúvida, a melhor forma é sempre perguntar para o seu cliente: Como você prefere que eu entregue as fotos? E ele vai te falar se é em RAW, JPEG, TIFF, PSD, via FTP, motoboy, fax ou sinal de fumaça!

Eu sempre recomendo meus alunos a organizarem todo o PSD da foto em tratamento, pois se o cliente não gostar de um detalhe, você não precisará refazer todo o trabalho.

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40 layers para uma foto de beauty

Os valores de retouch em publicidade variam de R$300,00 a R$2000,00 por foto.

Eu espero que esse texto tenha dado alguma luz para os fotógrafo em início de carreira, não se esqueça que esse valores e processos são baseados no mercado de SP para um job freelance de porte médio.

Caso queira conhecer o que é feito de melhor na fotografia publicitária mundial é só acessar o Ads Of The World.

Informações:
https://dofotografo.wordpress.com/tag/tratamento-de-imagem/